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  • Ricardo Pimenta

maldita paz


paz, maldita,

que trazes de bom?

silêncio me abraça

e afina o tom

aflito, constrito,

furtado de som

meu eco, desgraça,

esvaeço no chão

a calada me aterra

espelho tirano

obriga-me à vida

monólogo insano

exposto, pondero

punhal no abdômen

expurgo o veneno

com sangue do anho


estranho momento

carrega-me à nuvem

devolve-me ao vento

à procela, ao flúmen

tortura-me, lento

afoga-me em estrondo

mas toque, ao menos

um scherzo ou um rondo

fragor, camarada

não faça desfeita

desate a malacia

sincope o poeta

e entone uma ária

ou ato ou festa

mas solte seu brado

e afaste o silêncio

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